segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lost

Sei que isto vai parecer déjà lu mas tenho de o tirar do meu sistema (para surripiar à descarada uma expressão inglesa que se adequa aqui às mil maravilhas).
Porque será que as pessoas, seja na via pública, seja em estações dos mais variados tipos de transportes, vêm ter comigo para, sistematicamente:

a) Pedirem-me indicações/direcções por se encontrem perdidas?
Entendo que uma mulher procure, por motivos de solidariedade e alguma segurança garantida pela igualdade de género, qual a direcção da linha amarela no metro, tenha ela 20, 30 ou até 80 anos.
Mais difícil de entender é que o mesmo se apilque a estrangeiros. E o que há de bifes, boschs, baguettes e etcas que quase semanalmente, me abordam (sempre quis usar esta expressão, e cá está a oportunidade) para me perguntarem onde fica a o "Marquêssss de Pombal" ou a "Baíxa".
Não deve ser por idenficação: nem física pois quem me conhece, sabe que em nada me assemelho a uma sueca pelada de quase 2 metros de altura, ou a uma inglesa ruiva capilarmente e totalmente ebúrnea em termos de cromática dérmica.
É por ser simpática? Ok, I know, mas ELES não sabem disso. É por ser pequena? Mas pequenas como eu (ainda) as há "à patada". Logo, poor todos os motivos e mais alguns, não me destaco no meio da multidão. A multidão é que se destaca de mim.
E eu gosto disso. Gosto de ir sossegadita, no meu caminho e a ele atenta, de forma a não dar os meus típicos encontrões ou choques contra as mais diversas barreiras existentes nos espaços públicos. As mais frequentes chamam-se... pessoas.
Não é que me importe de ajudar os outros, não é que me cause embaraço falar inglês (já francíu custa-me a sair cada vez mais.
É apenas porque não há semana que não o façam. Time out, guys.



b) Last but not the least. Esta é que me causa verdadeira impressão e incomoda-me MESMO. As pessoas nas paragens de autocarros têm a mania de vir falar comigo sobre...si mesmas, as suas vidas, sem que eu lhe tenha perguntado absolutamente nada. Mas é que nada. Entre mim e elas, por meu desejo apenas haveria ESPAÇO, vácuo, silêncio.
Adoro conversar. É das coisas que mais gozo me dá fazer. Poucas coisas me alegram tanto como uma boa conversa com um amigo. Quando a vontade de partilha é a convidada-mor. Agora não compreendo de todo porque razão, as senhoras de meia-idade deste país sempre que perdem o autocarro anterior, ou lhes dói, no mínimo três dedos do pé, duas vértebras e meia, 3 para 4 bicos de papagaio, ou porque o senhor do supermecado foi uma "besta" com elas, têm de o vir partilhar comigo.
Hoje, lá aconteceu, once more. Ainda não estava na paragem, vinha ainda a senhora a andar, e já estava a cassete a ser desbobinada. Assim, fiquei a saber que tinha, por distracção, deixado escapar a sua paragem e lá teve de sair depois na Bobadela que era a estação que conhecia e que lhe valhesse Deus-nosso-senhor e todos os demais santinhos do Céu (que com estes incidentes cada vez me é difícil atingir) pois o próximo autocarro era às 12h e 45 e depois não dava para ir buscar o miúdo à escola e depois não tinha quem o fosse buscar. E ainda disse mais umas quantas coisas mas depois entrei em pause mode auricular.
Cansados, né? Imaginhem eu!! Ali, in loco, a ouvir aquela regurgitação ciclónica, emitida em vórtices de ansiedade e preocupação.
Compreendo a sua aflição. Não a minimizo. Tinha um compromisso e estava com dificuldade em conseguir cumpri-lo.
Mas porque tenho eu de o ouvir? É que, por acaso, foi sobre algo deste género, mas se fosse sobre a doença da tia ou da prima era igual, pois estas pessoas estão, claramente, para lá de qualquer auto-delimitação de privacidade.
É essa devassa que não é só sua, mas dos seus que me faz tanta confusão.
Talvez porque creia que não há mais nosso que a(s) nossa(s) dor(es), temor(es) ou medo(s).
Mas isto sou só eu.
Infelizmente, por vezes, tenho de ser eu, os bicos de papagaio, as artroses e o mundo...

3 comentários:

alma-em-4-corpos disse...

se o tamanho do aborrecimento for proporcional ao tamanho do texto ... ufa!!!!

Angelo disse...

Que bom que é a gente não se entender aqui! Ninguém fala comigo!
Eu vou ter que inventar uma maneira de despachar essa gente chata!

Fernanda disse...

Acho que nem farás ideia de quantas vezes fui chateada com perguntas dessas em Roma...e já me desenrascava nas respostas.