Um palitinho e um digestivo, se faz favor…
Estava eu aqui há uns dias em amena cavaqueira (expressão mais fiel ao espírito Portuga será difícil de arranjar) num almoço e eis que surge aquela frase que todos nós esperamos ouvir sempre quando nos encontramos num restaurante. Um dos convivas dirige-se ao empregado de mesa e brinda os meus ouvidos como o já tradicional e obrigatório:«_ Ó chefe, trazia uns palitinhos e depois era um digestivo».
Ora há aqui que salientar duas coisas: o tom intimista e quase afectuoso com que se retrata um pequeno utensílio em madeira cuja finalidade – limpar os dentes das impurezas trazidas de uma refeição – poderia ser perfeitamente substituída por uma boa pasta de dentes. Não se trata apenas disso na óptica do utilizador do palito, este é um «palitinho», uma espécie de mimo, de bónus que a refeição traz. A cereja no topo não do bolo mas do pernil.
Não ainda plenamente satisfeito com as maravilhas higiénicas personificadas no «palitinho», o cliente pede ainda o seu «primo afastado»: o indispensável(?) digestivo. Por mais voltas que dê, nunca conseguirei entender de que forma ajuda efectivamente à digestão (será que no interior de todos os whiskeys há uma pastilha Rennie?). Digere o quê e para quê? A digestão é, até ver, um processo autónomo, fabricado por mecanismos próprios, sem precisar de qualquer ajuda exterior. O digestivo tem em quem o bebe uma espécie de efeito placebo...sabemos que não ajuda de facto, mas o seu sabor reconforta, alivia. Como diria o outro: «é como o Melhoral, não faz nem bem nem mal». Enfim, um fenómeno difícil de «digerir».
Vanessa Limpo, Correio de Setúbal, edição de 8 de Maio de 2007.
1 comentário:
Lolololol...ta demais!!!Adorei...heeheh...tás lá amiga :))) Beijocas grandes
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