sexta-feira, 11 de maio de 2007

Sad but...true...

(excerto de uma ficha de gramática de uma explicanda minha do 6º ano)
Estava eu em pleno processo de explicação de um tempo verbal que agora não vem ao caso (não quero fatigar os leitores com o chamado "inglês técnico" que como sabem tanto mas tanto tem vindo a dar que falar) com uma aluna minha do 6º ano da escola de 2º ciclo onde eu, ironicamente, fui aluna há...ora deixa cá ver..noves fora nada...e vai um...(é melhor nem tentar finalizar a conta senão corro o risco de ter espamos ou uma virose aguda de saudades)...bom fui lá aluna há uns bons pares de anos. Ora, a explicação até era uma boa explicação, a aluna até era uma boa aluna (e é) e não "havia nexexidade" daquilo com que me deparei.
Um dos so called TPC (sim, caso seja o leitor/a seja um daqueles casos de desfasamento total com as novas teminologias académicas, fique descansado/a...a miudagem ainda chama TPC aos trabalhos de casa, pronto, pode respirar fundo, ainda não está assim tão velho) continha esta verdadeira "pérola" da pedagogia, a saber: ima frase que traduzida para português dá qualquer coisa como ( e vou dar o meu "melhor" dado que isto do inglês "técnico" não ser para qualquer um...) "Eu sou a Jean Evans e este é o meu irmão Ken (que não é o marido da Barbie, 'tá?). Nós somos ricos e felizes". Na outro balão de fala encontramos "Esta sou eu quando tinha cinco anos e este é o meu irmão Ken quando tinha quatro anos. Nós éramos pobres e infelizes".
Ora assim que li isto dois pensamentos imediatos ocorreram-me: 1º, vontade de regorgitar e 2º...bem., nova vontade de regogitar. Como é possível nos dias de hoje, um professor apresentar uma estrutura gramatical sem evidenciar qualquer preocupação com os conteúdos semânticos que são, paralelamente, apresentados aos conteúdos gramaticais? A mensagem que se passa é igualmente importante. Não devemos (a meu ver) dissociar o que se quer transmitir da forma que usamos para o transmitir.
Apresentar uma matéria escolar fazendo veicular a mensagem de que ser-se pobre é sinónimo de ser-se infeliz é de uma irresponsabilidade e mau gosto pedagógico tão ou mais grave que apresentar mal a estrutura ou dar algum erro (porque este poderá ser imediatamente corrigido pelo professor). Muito mais do que observar a estutura do verbo be no passado, os alunos reterão, provavelemente, a ideia de que, de facto ser-se pobre é igual a ser-se infeliz. E mesmo que tenham idade já para perceber que as duas coisas não são equivalentes ou sinónimas, a ideia terá sido sempre passada. E é isto que é lamentável. Para o aluno ou aluna que vive num qualquer bairro degradado dos subúrbios o "rótulo" assenta melhor que uma luva da casa de luvas"Ulisses".
Ensinar é, na minha parca opinião muito mais que transmitir ou debitar "matéria" (outro termo com o qual antipatizo enormemente), é incutir valores, mostar formas alternativas de ver o mundo, numa perspectiva de justiça (e justeza) e de não-discriminação. É tentar (e tão difícil é) retirar alguns dos (muitos) estereotipos e pre-conceitos que (todos) temos.
Por sorte, a minha explicanda possui além de uma boa cabecinha pensante, um óptimo sentido de humor e reagiu fisicamente como eu reagi mentalmente: esboçou um sorriso e disse: "deixe estar...eu não sou rica, mas sou feliz".

5 comentários:

Angelo disse...

Isto nao e normal?! Fosse eu pai de uma crianca que me trouxesse um texto desses para casa e o professor ia ver como era! Isso nao e normal!!!

Anónimo disse...

Ricardo said...

A ideia transmitida é completamente errónea. Faz-me lembrar os livros escolares dos meus pais em pleno Estado Novo. Nessa altura a ideia é que eram "pobres/ miseráveis/ analfabetos, mas felizes". Hoje acontece o extremo. O alcançar da felicidade parece estar dependente do sucesso profissional, do carro que se tem e das roupas que se usam. Passou-se do 8 ao 80. É triste que isso acontece.

Genial foi o comentário da tua pupila. Um bem-hajam a ela. Ainda há esperança no futuro...

Anónimo disse...

E sabes que mais?Sou pobre mas sou feliz!!!...Lololol...Continua que este teu blog tá fantástico ;)*ss

Anónimo disse...

...bem...que dizer?...tendo eu 1 filhote c 7 anos...o que é que por aí virá mais?... é caso para respirar fundo e ter uma levezinha esperança no futuro (por mais que isso nos custe...) ADORO "LER-TE" MULHER!!!! Uma valente e nao menos estrondosa beijoca! ;)

Anónimo disse...

Já agora, um grande beijinho, também estrondoso que ela merece, à tua aluna!
E aproveito para te dizer que aquele piolho do teu GRANDE amigo Gonçalo teve esta saída numa aulita quando uma colega não conseguia ler 1 palavra no texto e os restantes riam a gozá-la e diz ele (a prof. contou-me emocionada e logo eu tb fiquei...) "Nós não devemos gozar mas sim ajudar..." e ele só tem 7 anos...acho que temos que ter esperança mesmo neles, não achas amiga?